Mitos sobre a insulina

É muito comum a necessidade de uso de insulina para pacientes diabéticos. Pode ser indicada já no início do tratamento em casos de diabetes tipo 1, ou em diabéticos tipo 2 com glicemia muito elevada ou ainda quando existem outros problemas de saúde associados como insuficiência renal ou hepática. O uso de insulina trás uma série de dúvidas aos pacientes e muitas vezes aos médicos que os acompanham também. Levantei alguns questionamentos recorrentes no consultório e trouxe em forma de artigo:

1) Ao começar a insulina é preciso parar de usar comprimidos para diabetes?

Na maioria das vezes, NÃO. Essa dúvida é frequente tanto para pacientes quanto para médicos de outras especialidades. Para o tratamento do diabetes seguimos guidelines e recomendações baseadas em estudos clínicos. No geral recomenda-se a associação de medicamentos com perfil de ação diferentes para o controle da glicemia, seja por via oral ou injetável (subcutânea). Em casos de diabetes muito descompensado é recomendado a associação de medicações hipoglicemiantes orais a insulina. Em resumo, para o controle da doença, nos casos onde é possível iniciar o tratamento com medicações por via oral, este é realizado, seguido da associação de medicamentos com diferentes ações, e em alguns casos soma-se a estes o uso da insulina. Usar insulina não significa que há necessidade de suspensão de outros fármacos, exceto em casos de insuficiência renal ou hepática onde apenas a insulina é o tratamento recomendado.

2) Se eu começar a usar insulina não vou mais suspender seu uso?

DEPENDE! Insulina é uma medicação como qualquer outra, indicada em todos os pacientes com diabetes tipo 1, nos casos de diabetes tipo 2 associados a insuficiência renal ou hepática, em casos de falência pancreática (diabetes de longa duração com perda da capacidade de secreção de insulina). Nestes casos seu uso é permanente. A medicação pode ser indicada também para pacientes com diabetes descompensado, de forma a atingir de maneira mais rápida e efetiva o controle glicêmico. Nestes casos a insulina é usada em combinação ao tratamento por via oral, de forma temporária (até que se estabilize a glicemia) ou permanente, de acordo com as necessidades de cada paciente.

3) Devo chegar a dose máxima de insulina NPH para associar insulina de ação rápida ou ultrarápida ao meu paciente?

NÃO! Acompanho muitos alunos e colegas com essa dúvida. As insulinas tem perfil de ação e respostas diferentes. Ao usarmos insulinas de longa duração (basais), as doses são definidas pelo peso do paciente e ajustadas de acordo com os valores de glicemia pré prandiais (antes da refeição) checados através do automonitoramento glicêmico. Quando o paciente apresenta hiperglicemia pós prandial (após as refeições) mantida ou glicemia de jejum controlada com hemoglobina glicada fora do alvo terapêutico (com maior suspeita de hiperglicemia pós prandial), já pode ser indicado o início do uso de insulinas ultrarápidas antes das refeições, independente da dose utilizada de insulina basal.

4) Insulina basal como a NPH precisa ser usada de 12/12horas?

NÃO!! Outro questionamento frequente em discussões de casos clínicos. A insulina NPH quando utilizada como insulina basal, pode ser recomendada 2 ou 3x ao dia, podendo ser indicada pela manhã ao acordar, antes do almoço ou ao deitar. Não há necessidade de manter uso as 7:00 e as 19:00 por exemplo, se o paciente vai dormir as 22:00 ou acorda as 08:00.

5) Usando insulina sempre vou ter hipoglicemia?

DEPENDE! Esse é um medo real que deve ser bem explicado e manejado com os pacientes. O intuito do tratamento do diabetes de forma global é reduzir a glicemia, seja com uso de comprimidos ou insulinas. Sendo assim, há medicações com maior potencial em causar hipoglicemias, como é o caso da insulina. Porém não é uma relação direta, causa e efeito. Se há necessidade de uso da insulina, seu benefício supera os riscos de uso. Ao utilizar insulina ou qualquer outro medicamento para controle do diabetes é necessário ter alguns cuidados, como evitar longos períodos de jejum, realizar dieta fracionada, utilizar a dose correta indicada e calculada pelo médico, entre outros, que garantirão maior segurança com o tratamento. Em resumo, usar insulina não significa ter hipoglicemia, se isso acontecer é necessário checar os horários de ocorrência da hipoglicemia e tentar relacioná-los a alguma possível causa, como por exemplo, jejum, uso de doses excessivas, uso concomitante a outros medicamentos com potencial de reduzir a glicemia, dentre outros.

Lembre-se: insulina faz parte de um tratamento, é uma medicação e como qualquer outra tem seus prós e contras. Converse sempre com seu médico, tire suas dúvidas e siga seu tratamento da melhor forma possível.

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